2 de fevereiro de 2011

Irmãos, ou não. - Capítulo IV

Marie acordou em sua própria cama, e quando olhou automaticamente para o relógio, eram sete e meia da manhã. Mas quando olhou para o lado, não havia ninguém lá, e ela mesma continuava vestida. Pensou que talvez tudo aquilo não tivesse passado de um sonho, e levantou-se feliz para dar bom-dia ao irmão... que não estava no quarto. E nem em parte alguma, como no suposto “sonho” que acabara de ter. Ligou para a mãe para ver se esta sabia de alguma coisa, mas caiu na caixa postal. Resolveu então ir até a casa do melhor amigo de Dante, Thomas. Ele tinha que saber de alguma coisa, não era possível que Dante tivesse deixado de existir. Mas chegando lá...
- Oi, fofa. Thomas não está aqui, saiu ontem de noite e avisou que só voltava de manhã. Sinceramente está sendo ótimo, ninguém pra me perturbar o dia inteiro, porque minha mãe também saiu, então... Você tá com cara de quem está com pressa, então não vou te perturbar mais, tchau. – Então Esther bateu a porta na cara de Marie. Uma fofa ela, completamente.
Talvez ele estivesse na praia, no canto deles. Faltavam alguns minutos de caminhada até lá, quando passou em frente à casa da Susan. Era uma das poucas casas da região, já que a cidade fora tomada por prédios alguns anos atrás. De todas as pessoas do mundo, jamais imaginaria que o Dante estivesse saindo de lá, agarrado com ela. Então eles se... beijaram. Deixando escapar um soluço, saiu correndo até chegar ao canto em que costumava admirar o céu e o mar com Dante, encostada na pedra. Quando pararia enfim de chorar? Não agüentava mais derramar tantas lágrimas em tão pouco tempo, sentia-se fraca e idiota. Sensível de mais, parecia uma criança aos seus próprios olhos. Mas ignorou a mão que tocava seu ombro gentilmente, e continuou a abraçar os joelhos, chorando aquelas malditas lágrimas. Então a mão que a tocava se transformou em dois braços que a abraçaram forte. Uma voz falou em seu ouvido:
- Eu te amo, Marie, não fique assim. Por favor, não fique...
Marie continuava a chorar, até que os braços que a envolviam deram um abraço ainda mais forte, e duas mãos seguraram seu rosto e com suavidade o levantaram, e uma das mãos secou suas lágrimas. De olhos fechados pôde sentir as duas respirações se fundindo, dois lábios se tocaram e o resto do mundo foi deixado para trás. Marie conseguiu sorrir, e olhando no fundo dos olhos de Dante, pôde dizer o que estava entalado em sua garganta em todas essas horas:
- Eu te amo, Dan, e não sei o que vai acontecer daqui em diante; mas seja o que for, não vou me importar simplesmente pelo fato de estar com você. Só por favor, me diga que não aconteceu nada entre você e Susan, e que tudo voltará ao normal... – Marie sentiu seu sorriso desmanchar a cada palavra, mas não demorou muito até que ele voltasse a estampar seu rosto.
- Me perdoe pela cena que viu, não fui eu quem a beijei, ela que me puxou. E ontem à noite... eu fui com o Thomas para aquela boate que ele sempre me chama, mas não houve nada, eu te juro. Mas ele me enganou e me fez ir até a casa da Susan, e ela... bem, você sabe como é a Susan. Eu não cedi, mas o Thomas me largou lá hoje de manhã, e ela me agarrou... Me perdoa, mor?
- Tudo bem, meu amor... Mas foi horrível te ver saindo daquele jeito, fiquei desesperada sem saber o que fazer quando vi que você não estava em casa... Por favor, não faça mais isso, Dan. Eu te amo, e não quero te ver partir nunca mais! – exclamou Marie, abraçando o irmão o mais forte que pôde. Ele acariciava seus cabelos; sua mão tremia. De repente, Dante pegou a irmã no colo e começou a andar pela praia com ela. Marie ria, sentindo o vento acariciar seu rosto, o barulho das ondas do mar a deixava feliz, a fazia lembrar as melhores experiências que tivera naquela praia, além de uma confusa que tivera em outra... Por um momento seu riso silenciou, mas era impossível não voltar a rir quando seus olhos se cruzavam com o de Dan. Ele a trazia uma alegria imensurável, mesmo que só com o olhar. Dante então a jogou na areia, e pulou em cima dela. Começou a fazer cócegas, como há cinco anos atrás; eram dias perfeitos, aqueles. Riram durante horas e horas, foram até o mar e mergulharam, mesmo de roupa. Brincaram como crianças naquele dia... feliz. Não viam as horas passarem, não sentiram fome nem frio. O crepúsculo tomou conta do céu, e eles ainda eram crianças felizes, não estavam cansados.
- Mor, agora eu fiquei com fome, de verdade. Não tomei café da manhã nem nada, daqui a pouco vou desmaiar, hein.
- Não tem problema, eu te levo no colo até em casa, você sabe que eu agüento numa boa, Marie. – brincou Dante. Foram rindo até o restaurante mais próximo. Algumas horas depois, após jantarem, comerem a sobremesa e brincaram mais um pouco na praia, observarem as estrelas e o luar, estavam entrando no prédio, para o fim de mais um dia perfeito, como aqueles de anos atrás.
- Oi, Marie. – cumprimentou uma voz um tanto seca e magoada atrás deles.
- Caio! – sorriu Marie, para fechar a cara logo em seguida. – Por que está assim, amor?
- Se você não se lembra, eu deveria? Te liguei algumas vezes, enquanto esperava na porta do cinema, mas... você não veio. Eu entendo, devia estar ocupada. Bom, não custava ter me ligado para avisar que não ia, ou ao menos ter me ligado, como disse que faria; mas tudo bem, não tem problema. Só vim até aqui me certificar de que estava tudo bem com você e sua família. – Caio fez uma pausa, em que analisou as roupas molhadas de Dante e Marie. – Mas vejo que foi tolice me preocupar. Vocês estão ótimos, não?
- Caio, meu amor, eu... Deixei o celular em casa... Me desculpa, eu deveria ter te lig.. Dan! – à frente de Marie, Caio virava as costas e voltava para casa, enquanto às suas costas, Dante fazia o mesmo. Para onde ir?
Bateu o portão do prédio com estrondo, e correu de volta para o mar. Mas dessa vez não choraria, não mesmo. Marie se deitou no canto em que chorara mais cedo, e dormiu; mas não antes que uma última lágrima deslizasse pelo seu rosto.

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