3 de fevereiro de 2011

Irmãos, ou não. - Capítulo V

Acabaram-se as lágrimas, Marie dizia a si mesma, não serei mais criança. A partir de hoje, serei a garota madura que todos sempre viram em mim. Eu sou essa menina, e nenhuma outra. Levantou-se e viu o sol nascendo naquele exato instante. Seria lindo, se não fosse tão triste. Mas não, não era triste. Uma frieza se apossou de Marie, frieza essa que nunca antes fora sentida pela garota, tal era a intensidade. Acostumara-se a ser doce e gentil, meiga e alegre, mas também era sensível e chorava de mais. Em sua opinião, era infantilidade de mais chorar tanto em tão pouco tempo. Decidira-se por não ser mais assim de agora em diante. Voltou-se em direção ao seu prédio, e caminhou decididamente até ele. Entrou no elevador sabendo exatamente o que faria ao chegar em casa. Fingiu não ver a mãe que tomava café na cozinha, mas esta veio atrás dela.
- Marie, pode me dizer onde esteve essa noite? Quando cheguei em casa vi sua porta aberta e você não estava lá. Dante já estava dormindo e não quis acordá-lo, então faça o favor de me responder.
- Na praia. Passei a noite lá. Mas estranho, mãe, que quando o Dante sumiu você não falou nada. Quer dizer que ele pode sumir e eu não?
- Olha como fala comigo, sou sua mãe! Dante me ligou do celular do amigo avisando que passaria a noite lá, você não. E na praia? Marie, tem noção do quanto isso é perigoso? Não vai mais sair, nem com o Dante, nem com o Caio e nem com ninguém. Até que eu ache que já aprendeu a lição, vai ficar em casa, e só vai sair dela comigo ou com a minha permissão, o que dá no mesmo. Entendeu bem, Marie?
- Mãe! Quantas noites eu já não passei na praia? Você nunca me deixou de castigo por isso!
- Mas você estava com o Dante, era diferente.
- E você também nem se deu ao trabalho de me procurar, né? Claro, por que faria isso, quando o resto do mundo está em paz! – Gritou, antes de subir para o quarto e, depois de bater a porta com força, trancá-la. Começou imediatamente a arrumar suas coisas mais importantes em uma mochila. Logo em seguida escondeu-a entre as coisas da escola. Era sexta-feira, e segunda começavam as aulas... Enquanto não começavam, ela poderia fingir que se arrependera de ter aborrecido a mãe, e logo poderia fugir. Mas... para onde? Isso era uma das poucas coisas que Marie já sabia.
Algumas horas mais tarde, pegou o celular e ligou para Diego, seu melhor amigo. Caixa postal de novo... Então o celular começou a tocar.
- Oi, pitchula minha! Saudades de você!
- Diego, seu bobo, eu te liguei agora mesmo e caiu na caixa postal, como assim? Saudades sua, vagabundo! – riram os dois.
- Não sei, esse celular é louco e você sabe. Mas e aí, tá tudo bem contigo?
- Tudo, tudo... tirando o “castigo” que minha mãe me deu por ter dormido na praia ontem. Não posso mais sair de casa, até ela achar que eu já “aprendi a lição”. Ai, ninguém merece, viu! Chata, ela. Muito chata. E você, tá bem?
- Nossa, eu sempre achei sua mãe tão legal... e você já dormiu na praia tantas vezes, que bobeira dela. Devia estar irritada com outras coisas, não?
- Ah, nem sei, Diego...  E você não me respondeu, tá bem?
- Desculpe, tô sim. E Marie, não fique triste nem com raiva, mães são assim. Se preocupam conosco e acabam exagerando na forma de demonstrar, lembra quando a minha mãe me deixou sem celular, computador e até me levava e me buscava na escola só porque eu cheguei meia hora atrasado em casa depois de uma festa? Isso foi ano passado, eu tinha 15 anos... Fiquei com muita raiva, mas hoje eu rio muito disso, e você até me zoa às vezes. Então não se preocupe, eu vou estar sempre aqui pra te ajudar, e se você passar muito tempo sem dar notícias eu dou um jeito de te achar. Sou ou não seu melhor amigo? Sempre estive do seu lado te apoiando, e não é agora que vou te deixar na mão. Você é minha pitchula, minha pirralha linda. Te amo, porra! – Fez Diego, fazendo Marie rir. Era mesmo gostoso falar com Diego, eles se conheciam há três anos só, mas era como um irmão para ela... Mas ela não o olhava como olhava para Dante, ele era diferente. Jamais pensaria em fazer qualquer coisa que não fosse abraçar ou beijar o rosto de Diego, ele era especial de mais para ela...
- Muito fofo da sua parte, Diego, mas saiba que eu te amo muito mais. – brincou Marie.
- Eu finjo que acredito em você, só porque sei que te amo mais, tá?
- Bobo, não vou discutir sobre quem ama mais, porque nós dois sabemos que os dois amam mais!
Eles riram por alguns instantes, até uma pedra bater na janela de Marie, fazendo-a pular da cama de susto. Mas quando olhou para ver quem era, qual não foi sua surpresa ao ver Diego lá em baixo!
- Diego, o que está fazendo aí?! – perguntou Marie, surpresa, ainda pelo celular.
- Você disse que não podia sair, mas nunca falou que ninguém podia te visitar. Eu vou subir, até daqui há pouquinho, Ma. – e desligou. Diego era assim, surpreendentemente surpreendente. Era impossível adivinhar o próximo passo que ele daria. E mais surpresa ainda ficou Marie ao ver um enorme urso de pelúcia nos braços de Diego quando ela abriu a porta em silêncio.
- Diego! – exclamou Marie, pulando em seu colo assim que o garoto deixou o urso no chão. – Que saudades, você não faz idéia!
- Mas é claro que faço, se senti o dobro de saudades suas, pirralha. – pegou-a no colo como se fosse uma criança, e ia andando até o quarto dela quando Marie fez sinal que parasse.
- Meu urso, esqueceu? – sorriu a garota.
- Mas é claro, como pude esquecer? – então se agachou até o chão, ainda com Marie no colo, de forma que ela pudesse pegar o urso e esmagá-lo entre os dois quando abraçou novamente Diego. Aí sim ele pode subir as escadas e entrar no quarto dela. Jogou-a na cama, e depois jogou o urso em cima dela, que riu e jogou de volta uma almofada da cara dele. Riram mais um pouco, então começaram a conversar. Alguns minutos falando sobre várias coisas diferentes, e Marie finalmente tomou coragem para contar as “novidades” a Diego. A princípio ficou receosa, mas logo foi sentindo-se mais a vontade, vendo que Diego não fazia nenhuma cara de desaprovação. Por fim, apenas disse:
- Marie, pode não ser uma coisa muito comum, mas não precisa ter medo de me contar nada, quando você sabe que eu nunca te julgo e sempre entendo seu lado. Ainda mais se não foi nada forçado, e os dois quiseram. Por mais incomum que seja, eu aceito isso numa boa; sou teu melhor amigo e só quero ajudar.
- Ah, Diego, como você é fofo, sabia? Por isso é meu melhor amigo, já te contei as coisas mais bizarras e você sempre age com naturalidade. Mas agora... e o Caio? Eu não sei o que fazer em relação à ele, se ligo, se espero que me ligue, se termino, dou um tempo ou só peço desculpas e tento manter o namoro... O que você acha?
Então, inesperadamente, Diego a beijou. Marie optara por não corresponder, e em vez disso terminou o beijo com um selinho e o fitou, espantada.
- Por que fez isso, Diego?
- O que você sentiu quando nossos lábios se tocaram, Marie?
- Diego, por que fez isso?!
- Marie, me responda: o que sentiu?
- Eu não senti nada; deveria?
- Claro que não, você não me ama.
- Como não amo? Você é meu melhor amigo, é lógico que amo!
- Mas só como melhor amigo, o que prova que você não cai na de qualquer um. Sugiro que tente beijar novamente o Dante, e depois o Caio. Então poderá se decidir. Escolha aquele que faça despertar em você o sentimento mais forte que puder sentir.
- Diego, eu... estou... realmente surpresa! Mesmo depois desses três anos, eu ainda não entendo o que você quer dizer com as palavras e atos de primeira, será que você é mesmo uma caixinha de surpresas ou eu que sou meio lerda?
- Eu costumo agir por impulso, você não é a primeira que se surpreende. – respondeu ele, sorrindo. Gostava que as pessoas se surpreendessem com ele, porque achava realmente chato ser do tipo previsível.
Impulso, isso lembrou a Marie o plano que desejava concretizar até o fim da próxima semana.
- Diego, você poderia me fazer um favor? – começou ela, com a carinha de cachorro sem dono que sempre fazia ao pedir grandes favores, principalmente aos melhores amigos, Diego e Luna.
- Hum, eu conheço essa carinha... Lá vem bomba, né? Mas fala, acho que a menos que seja algo do tipo “Me mata?”, não terá problemas.
- É que... eu queria te pedir pra... passar alguns dias na sua casa, a partir dessa semana. – Diego franziu a testa e perguntou:
- Você está querendo passar exatamente quanto tempo fora, Marie?
- Uns... ah...
- Marie, você não pretende fazer o que eu penso não, né? Minha mãe acabaria ligando para a sua, e não ia dar certo, você sabe.
- Mas Diego, eu não vou agüentar ficar aqui por muito tempo; preciso ir para algum lugar!
- Você realmente não presta, hein? Será que até pra fugir de casa eu vou ter que te ensinar como se faz? – Marie sorriu. Diego era realmente inacreditável! Quem mais no mundo diria tal coisa em uma situação como esta?

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