Era segunda-feira, Marie levantou-se da cama com um sorriso estampado no rosto, apesar de serem cinco e meia da manhã. Tomou banho, pôs o uniforme, pegou a mochila e desceu. Encontrou com a mãe na cozinha, que se surpreendeu com anormalmente animado “Bom dia!” de Marie. A menina apenas sorriu ainda mais ao ver a expressão espantada da mãe, tomou o café da manhã, se despediu e desceu. Na portaria, mais charmoso que nunca, Diego a esperava, como de costume. Marie riu com a pose de galã do amigo e pulou em suas costas assim que chegou perto o suficiente. Ele levou um susto, e então começou a rir. Saiu andando com Marie nas costas, e os dois riram durante todo o caminho até a escola. Logo que desceu das costas de Diego um emaranhado loiro tapou sua visão e Marie se viu amassada novamente. E agora estava ainda mais amassada, porque Luna e Diego a esmagavam ao mesmo tempo. Depois de quase três minutos sendo sufocada, os melhores amigos a soltaram, e os três riam como não faziam juntos há quase três meses. Por vezes via Luna ou Diego nas férias, mas não conseguira se encontrar com os dois ao mesmo tempo depois do luau de comemoração pelo começo das férias. Todos os anos eles faziam isso, desde que Marie e Luna se conheceram cinco anos atrás. Diego infelizmente só entrara na escola dois anos depois e logo as duas ficaram amigas dele. Desde então só se separam quando começam as aulas, porque são de turmas diferentes; Luna e Marie estudam juntas no nono ano e Diego é do segundo grau. Assim que o sinal bateu as meninas se despediram de Diego e foram para a sala; mas logo voltaram ao pátio, porque o professor faltara. No primeiro dia de aula!
Falavam sobre as novidades da semana em que ficaram sem se ver enquanto Luna viajava. Marie estava contente com o que a amiga lhe contava sobre a viagem; o lugar parecia ser mesmo bonito e pelo visto Luna gostara mesmo de lá.
- Nas próximas férias quero ver se vamos juntas. Já falei com a minha mãe e ela disse que só falta combinar com a sua. E, por falar nisso... – Marie desmanchou o sorriso e desviou o olhar instantaneamente, tendo certeza do que vinha pela frente... – e o Dante, hein?
A garota fingia observar uma borboleta que voava ali perto neste instante, mas por mais que seu olhar estivesse em sua direção, ela nada via; seus pensamentos se voltavam para todos os acontecimentos recentes entre ela e o irmão, e em como sentia sua falta. Dante passara o final de semana na casa de Thomas, e como os dois já completaram os estudos e tiraram o ano para escolher a faculdade que fariam e etc., Marie sabia que ele só voltaria para casa na próxima semana, principalmente depois daquela noite da última sexta-feira. Ah, como contaria à Luna?
- Marie, está tudo bem?
Se pôde contar ao Diego, também podia contar a ela. Respirou fundo e começou a contar tudo, desde seu aniversário até a visita de Diego. Luna, ao contrário do amigo – que agiu com naturalidade e tentou ajudá-la – simplesmente começou a rir. Marie ia perguntar o motivo do riso, quando um garoto alto de cabelos loiros e ondulados chegou por trás de Luna e tapou seus olhos com as mãos. Quase que na mesma hora a garota exclamava, sorrindo:
- GUI! – E ignorando a presença de Marie, Guilherme sentou-se ao lado da namorada e a beijou.
Essa era uma das poucas coisas extremamente irritantes em Luna: seu namorado. Estavam juntos havia dois anos, assim como Caio e Marie, já que as amigas conheceram seus futuros namorados na mesma noite e logo descobriram que, na época, eram melhores amigos também. Saíam sempre juntos, até que os garotos combinaram de pedir às amigas em namoro no mesmo dia, quando foram a um jardim próximo e deram uma rosa de cor diferente para cada uma das meninas – a de Marie era branca, e a de Luna vermelha. Porém, uma semana após completarem um ano de namoro, Guilherme e Caio se desentenderam e até hoje ninguém soube explicar.
Guilherme não era má pessoa - principalmente com Luna, a quem tratava como rainha -; mas seu jeito esnobe e metido de ser contrastava totalmente com sua aparência angelical. Além dos cabelos loiros – iguais aos da namorada -, seus olhos eram verdes e sua pele macia, assim como sua voz. Até seus trejeitos eram como de um anjo. Mas certamente o garoto percebia isso, porque fazia de tudo para que o confundissem com um ser celestial. Porém em seus exageros acabava passando apenas a impressão de ser mais um desses garotos que iludem a todas – o que fazia com que Luna constantemente fosse vista como uma pobre garota inocente, apesar de não terem provas de que isso fosse verdade. Marie sabia que jamais teriam, mas mesmo assim se irritava e muito com Guilherme. Principalmente depois da briga com Caio, o garoto passara a agir como se ela fosse invisível, e Marie detestava que fizessem isso. Afinal, quem não detestava?
- Ah... Luna? – o casal não desgrudava os lábios um do outro há quase dez minutos. Luna interrompeu o beijo e sorriu sem graça para a amiga.
- Mil desculpas, amiga... Mas você sabe como é o Gui, me faz até esquecer que preciso respirar!
- Aham, perfeitamente. Estou ciente disso há dois anos. Será que agora podemos conversar? Preciso mesmo falar sobre aquele assunto com você, Luna.
- Vai me abandonar então, amor? - Fez Guilherme, com sua carinha mais triste e angelical. Daria até pena, se não fosse tão ridículo.
- Meu amor, me desculpe, mas o assunto é sério mesmo... E você não devia estar na aula?
- Ah, eu... Dei um pulinho aqui pra te ver, sabe. Comentaram que vocês estavam aqui e eu disse que vinha beber água, e...
- Gui, vão desconfiar se você passar muito tempo aqui embaixo, sabe como são os professores, amor...
- Tá bem, tá bem. Eu vou, mas saiba você que eu faria de tudo para ficar aqui, se não fosse a sua amiguinha querendo roubar você de mim.
- Guilherme, chega! Você sabe muito bem que a Luna é minha melhor amiga e a gente já estava conversando antes de você chegar. Trate de voltar pra sua sala e pare de gracinhas, fazendo favor!
- Luna, você vai deixar ela falar assim comigo? – Fez Guilherme de novo. Haja paciência!
- Ela virou sua mãe agora por acaso, Guilherme? Se não gosta do jeito como eu falo, mude a sua maneira de me tratar também. Eu não sou invisível e não tive nada a ver com a sua briga com o Caio para você agir assim. Mas, quer saber? Fique aí com ela, não preciso da ajuda da minha melhor amiga, mesmo! – Disse Marie, só agora se dando conta de que estava de pé e com a mochila na mão. Saiu andando então, quase correndo de tão rápido. Subiu as escadas e sentou-se na porta de sua sala de aula, agora trancada. Naquele momento sentiu muita raiva de Luna, por sempre se esquecer do resto do mundo quando estava com Guilherme. Marie não agia assim quando estava com Caio ou com Dante, não mesmo; por mais que amasse estar com cada uma das pessoas que amava a sós, sempre que tinha mais alguém fazia de tudo para que o momento fosse tão bom como qualquer outro. Até entendia que sua amiga estivesse mais do que apaixonada pelo namorado, e que sempre quisesse aproveitar o momento, mas afinal eram melhores amigas...
Depois de alguns minutos, levantou-se e se dirigiu ao banheiro para ajeitar a aparência e "se esconder" até que o sinal batesse. Faltavam mais dois passos para entrar no banheiro, quando uma mão segurou levemente seu braço, impedindo-a. Logo uma voz sussurrou:
- Me desculpe Marie, eu errei com você.
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