26 de março de 2011

Irmãos, ou não. - Capítulo X

Mais uma semana se passou e fariam a missa de sétimo dia de Diego. Uma bobeira na opinião de Marie, mas ele não deixava de ser seu melhor amigo, então mesmo assim levantou-se da cama tão cedo como se fosse para o colégio, já que resolveram fazer a missa no mesmo horário. Segundo os organizadores, era para que as pessoas pudessem ir, já que normalmente iriam à escola nesse horário.
- Tipo, hã? Nada a ver isso, eles realmente não usam muito o cérebro, esse pessoal que organiza essas coisas... Não acha, amiga?
- Luna, dá pra parar? É, não tem sentido isso, mas tem como ficar quieta fazendo favor?! Você não pára de falar nem um segundo, e ele era meu melhor amigo, tem como respeitar? Aliás, ainda é.
- Desculpa, chata. – bufou Luna. Sem agüentar a garota, Marie saiu de perto dela, em direção ao garoto alto e de cabelos pretos e lisos que acabava de chegar. A garota tentou sorrir antes de chegar mais perto de Caio, mas desistiu ao ver que não daria muito certo.
- Sinto muito... – começou o garoto, mas Marie cortou-o logo.
- Não diga isso, ele está melhor agora e tenho certeza... Voltei a falar com Luna por ele, acho que é o melhor que posso fazer, melhor do que pôr flores no caixão ou algo do tipo. – E percebendo que Caio escondia uma rosa atrás do corpo e sorria sem graça, acrescentou:
– Não estou dizendo que ninguém possa colocar flores no caixão, é um ato simbólico, mas eu prefiro agir conforme ele me aconselharia, não é? Linda rosa, essa. Ele deve estar achando graça dessa situação toda, pessoas chorando por ele e colocando flores...
Um ligeiro sorriso apareceu em seu rosto sem que a menina percebesse, então Caio a abraçou forte, o melhor abraço já recebido por Marie. O garoto pegou sua mão e a levou para uma pracinha próxima, em que algumas crianças riam e brincavam como se a morte não estivesse tão perto daquele lugar florido. Sentaram-se em um banquinho embaixo de uma árvore com flores brancas, e os olhares se encontraram no mesmo instante em que uma das flores caiu nos cabelos de Marie. Caio se aproximou sorrindo e ajeitou a flor nos cabelos da menina, sem tirá-la de lá. Seus olhares se encontraram novamente, e agora os dois sorriam abobados um para o outro, enquanto seus rostos se aproximavam, cada vez mais... Seus olhos fechavam, enquanto as respirações ofegantes dos dois se fundiam, e a mão de Caio acariciava o rosto de Marie. Há muito tempo a garota não lembrava como era aquele toque e o sabor que tinham os lábios dele, e quando finalmente as bocas se encostaram era como beijá-lo pela primeira vez... Estava acontecendo exatamente igual ao primeiro encontro dos dois, quase três anos atrás. Ela fora uma garota difícil de ser conquistada, e ele nunca desistira dela, mesmo com a implicância de Dante.
Na cafeteria em que se conheceram ela fora gentil e engraçada, mas como o irmão não gostaria nada se ela o tivesse como algo mais que amigo, logo Marie se tornara ríspida e agressiva com o garoto mais doce do mundo, que sempre inventava todo tipo de desculpas para estar perto dela.
- Eu só tenho onze anos, tem como me deixar em paz?!
- Desculpe se eu a importuno, mas meus olhos nunca se depararam com alguém tão... perfeita. – suspirou Caio, aos quinze anos. – Eu prometo ficar quieto, só sua presença já é suficiente para mim.
- Ok, você pode ficar aí, mas não me atrapalhe ou vou embora e nunca mais olho pra sua cara – “ou para esses lindos olhos”, a garota de pegou pensando furtivamente, e no mesmo instante virou-se e voltou a brincar com mais duas meninas na beira do mar. Enquanto Caio admirava Marie, vez ou outra ela o olhava rapidamente, e ele sorria para ela sempre que isso acontecia. Mas em uma das vezes em que a menina olhava para Caio, a onda pegou-a de surpresa, e seu joelho sangrava quando tentou levantar. O garoto imediatamente correu para ela, e sem dizer nada pegou-a no colo e seguiu para casa, muito perto dali.
- Onde está me levando, garoto?!
- Pra minha casa, é mais perto que a sua.
- Como você sabe onde é minha casa?
- Bom, eu... te vejo saindo e entrando naquele prédio às vezes, com seu irmão e sua mãe...
- E como você sabe que são minha mãe e meu irmão? E se fossem minha tia e... meu namorado?
- Eu tenho minhas fontes – sorriu ele, encantadoramente. – E eu sei que você não tem namorado, ou ele nunca largaria do seu pé. Seu irmão realmente não te larga, mas agora por exemplo, ele estaria aqui, tenho certeza. Pronto, chegamos Marie.
- Já pode me por de pé, Caio.
- Não, não mesmo. Você ainda está machucada, e não quero eu sinta dor... eu te carrego, não se preocupe.
Apesar das reclamações da menina, Caio continuou levando-a no colo, até o sofá da sala de estar de seu apartamento. Ele deu o controle da TV na mão dela, mas Marie não se sentiu a vontade para ligá-la e mudar de canal, então apenas colocou-o na mesinha de centro e continuou quieta, esperando o garoto voltar da cozinha, onde estava sua mãe. Poucos minutos depois, uma mulher bonita de seus trinta e poucos anos veio com uma bandeja com sanduíches, biscoitos e fatias de bolos sorrindo para Marie. Logo atrás vinha Caio, com mais uma bandeja, um pouco menor, com uma jarra de suco e dois copos.
- Aqui está, Marie. Caio vai fazer seu curativo, e depois vamos lanchar, tudo bem? – disse a mulher, colocando a bandeja em cima da mesinha de centro, seguida de Caio. O garoto sorriu para Marie e voltou-se para onde deveria ser o banheiro.
- Não precisava, tia... Muito obrigada, mas realmente não queria incomodar vocês! Caio que me trouxe até aqui, mal tive tempo de respirar e ele já me pegava no colo e me trazia para cá, me desculpe o incômodo, de verdade... – A mãe de Caio sorriu ainda mais, ao dizer:
- Não tem problemas, meu anjinho... ele me explicou tudo, vive falando de você. Falando bem, claro; bem até de mais! Não é incômodo nenhum tê-la aqui em casa, já liguei para a sua mãe e o Caio ficou de te levar em casa, se não se importa.
- Claro que não, qualquer coisa está bom pra mim.
- E eu sou qualquer coisa, é? – Brincou Caio, entrando na sala com um kit de emergência nas mãos.
- C-claro que não, estava brincando, menino! – respondeu ela, nervosa com a repentina aparição de Caio quando estavam falando dele.
- Eu sei, eu sei, não precisa ficar nervosa... Agora me deixe ver seu joelho, vivo fazendo meus próprios curativos.
Algum tempo depois, Marie já ria e brincava descontraída com Caio, conversando sobre filmes, escolas, irmãos, irmãs...
- Você tem uma irmã? – perguntou Marie, um pouco séria.
- Tenho sim, da mesma idade que você. Se chama Carly, e hoje está na casa do papai... – o garoto desfez o sorriso também, sendo notado por Marie.
- Por que essa carinha, não gosta que ela vá para lá? – arriscou a garota.
- Não é isso... Mamãe vive reclamando que eu não vou para lá, mas não nos damos muito bem, entende? Prefiro evitar brigas. É chato começar a semana já extressado, não costuma dar certo. Mas vai ficar tudo bem, não se preocupe. Já está tudo bem, na verdade.
- Tudo bem, então. Mas quando quiser conversar, eu estarei sempre aqui, não importa quanto tempo demore até que tenha terminado de me contar tudo. Eu não vou te julgar nem contar para ninguém, pode ficar tranqüilo.
Caio sorriu, deu um beijo na testa dela e pegou sua mão, descendo as escadas do prédio com ela em direção à pracinha em frente.
- Por que descemos de escada se tem elevadores?
- Para ser mais rápido, vamos.
Chegaram logo na pracinha, onde sentaram-se em um banquinho embaixo de uma árvore com flores brancas, e os olhares se encontraram no mesmo instante em que uma das flores caiu nos cabelos de Marie. Caio se aproximou sorrindo e ajeitou a flor nos cabelos da menina, sem tirá-la de lá. Seus olhares se encontraram novamente, e agora os dois sorriam abobados um para o outro, enquanto seus rostos se aproximavam, cada vez mais... Seus olhos fechavam, enquanto as respirações ofegantes dos dois se fundiam, e a mão de Caio acariciava o rosto de Marie. As bocas enfim se encostaram, como em um segundo primeiro beijo, o primeiro instante da vida de Marie em que a garota esquecera de um pequeno detalhe, ocorrido três anos antes...
- Por que não, Daaan? Você e mamãe disseram que tinha que ter confiança, e você é a pessoa em quem eu mais confio no mundo inteiro. Mas acho que você não confia em mim...
- Claro que confio, que pergunta! – cortou logo Dante, aos doze anos. – Você inventa cada coisa, sabia? Mas eu não ia querer que fizesse isso com outro garoto qualquer, então acho que...
Dante não conseguira completar a fala, pois os olhos de Marie fitavam os seus com tal intensidade, hipnotizando-o. A garota passou a mão direita pelo rosto do irmão enquanto se aproximava dele. Os olhos já haviam se fechado e os lábios lentamente se encontravam...
- A partir de agora – Dante decretou alguns minutos mais tarde, sorrindo. -, somos um do outro.
- E nada nem ninguém mudará isso. – completou a garota, unindo suas mãos com as de Dante.
- Aconteça o que acontecer...
- Prometo ser só sua...
- Prometo ser só seu...
- Para sempre. – os dois sussurraram juntos.

- Não, Caio... – Marie interrompia o beijo. – Nós não podemos continuar juntos, eu... eu não posso mais... – dizia ela, o olhar perdido enquanto se afastava de Caio com, de volta aos quatorze anos.
- Você não me ama mais?
- Eu... eu não posso, Caio... Me desculpe, mas eu não posso... eu nunca pude...
Marie levantou-se e saiu correndo para casa, sem ouvir os berros de Caio chamando por ela. Correndo o mais rápido que pôde, chegou na casa a essa hora ainda vazia, e se largou na cama, dormindo logo em seguida.

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