30 de março de 2011

Irmãos, ou não. - Capítulo XI

- Marie? – Uma voz muito familiar chamava pela garota, acordando-a. A princípio pensou ter vislumbrado um anjo, fantasma, ou algo do tipo, mas era quase isso. Diego sorria para ela de braços abertos, enquanto ela o encarava assustada, sem acreditar.
- Não vai me abraçar, Marie? Estou tão feliz...
A garota estava perplexa, e não conseguia se mover tamanho o susto. Uma luz verde-clara emanava do corpo do garoto – sua cor favorita -, e combinava muito com ele. A luz verde-clara parecia ser mais densa quanto mais próxima estava do corpo dele, e ficava mais suave conforme se estendia, quase sumindo... Alcançava cerca de meio metro, e quando Diego se aproximou de Marie, iluminou-a e a aqueceu. Quando a luz chegou perto o suficiente dela, a garota sentiu como se a luz a tocasse, entrasse dentro dela e a aquecesse, o que a fez despertar do transe em que estava. Ela enfim levantou ainda encarando Diego com espanto.
- É-é você mesmo, Diego?
- E quem mais seria, Marie? – ele continuava sorrindo e com os braços abertos. – Vai me deixar aqui com os braços abertos no vácuo?
A garota se aproximou dele, e conforme o fazia, a sensação que a luz produzia se intensificava, e abraçá-lo transmitia uma sensação indescritível de paz e proteção. Diego parecia tão real...
- Não se preocupe com nada – começou ele -, estou aqui para protegê-la e guiá-la. Eu deveria estar me readaptando ao novo estilo de vida – brincou Diego, sorrindo -, mas sabia que não poderia deixá-la sozinha nunca. Você é a única que pode me ver, ouvir, sentir e tudo o mais, e podemos nos comunicar pelo pensamento - é fácil. Mesmo que eu não esteja por perto, ou você simplesmente não me veja, qualquer coisa que precise é só pensar em mim. Talvez eu não apareça para você, mas ajudarei no que for necessário.
- Estamos dentro de um... sonho?
- Bom, mesmo que estivéssemos, seria real. Não acha?
- É verdade, mas... então é você mesmo? Eu estou acordada e falando com meu melhor amigo que há uma semana eu vi morrer, e agora é meu anjo da guarda, guia espiritual, ou seja lá como se chame? É isso?
- Bom... quase isso... Não sei se sou exatamente seu anjo da guarda, mas algo parecido. Algo como... É, talvez eu seja realmente um tipo de anjo da guarda. – concluiu confuso, coçando a cabeça -, mas por favor não me chame assim, ok? – pediu ele um pouco constrangido. Marie riu.
- Ok, ok! Você não tem asas mesmo, jamais seria um anjo. Tem mais cara de diabinho da guarda, né... – brincou Marie, ainda rindo.
- É, né... sacomé, é até melhor, porque as diabinhas são bem mais....
- Diego!
- Brincadeira, bobinha! – os dois riam juntos agora.
- Quero mais um abraço...- pediu a garota, sorrindo.
- E precisa pedir? – Disse Diego, já abraçando-a forte, levantando-a. Marie gritou e deu um tapa no braço do amigo assim que este a colocou no chão. Ele beijou seu rosto e fez sinal para que saíssem do quarto, mas quando a garota pôs o pé no primeiro degrau da escada, se sentiu tonta e enjoada, e tentou ir até o banheiro, mas vomitou poucos passos depois da escada. Diego amparou-a até o banheiro para limpar o rosto, e aconselhou que tomasse um banho. Enquanto ela tomava o banho, o garoto limpou todo o vômito e preparou um lanchinho com chá para ela. Arrumou em uma bandeja e levou para a suíte de Marie, onde a garota se... vestia.
- DIEGO! – gritou ela assustada, cobrindo-se com a toalha.
- Desculpe, desculpe! Eu não vi nada, juro! – gritou Diego de volta, fechando os olhos.
- Acho bom não ter visto, porque senão...
- Senão o que, vai me bater? – desafiou Diego brincando, ainda sem olhar.
- É, vou te bater. E muito. Nem ligo se vai doer ou não, pelo menos extravaso minha raiva, seu pervertido.
- Que pervertido o que, eu vim trazer lanchinho pra você, garota! – ria Diego.
- Eu tenho nome, tá? E faz o favor de continuar de olhos fechados enquanto pego minha roupa.
- Não sei pra que tanta cerimônia se sou seu... protetor, agora. Mas ok, ok. Você sempre foi chata mesmo...
- Quer ver? Então fique a vontade, se quer tanto assim. Não tenho nada mesmo, que diferença faz, né?
- Claro que não vou olhar, você é minha melhor amiga e agora é também minha protegida, então tenho que te proteger do... dos meus olhos também, sei lá.
- Bobo, já pode abrir os olhos.
- Mas... você tá de sutiã e calcinha ainda, garota! – Se espantou Diego, ao olhar para ela.
- Você já me viu de biquíni, não foi? Deixa de ser criança, Diego! – Marie não parava de rir, achando graça do constrangimento do amigo em vê-la semi-nua.
- Põe logo a roupa, vai acabar ficando...
- Resfriada? Pelo amor de Deus, minha mãe diz essas coisas! Pronto, já to vestida agora, feliz?
- Não, tá só de short. Qual sua dificuldade em colocar uma roupa, Marie?
- Nenhuma. Só acho graça em ver você vermelho por eu estar só de roupa íntima. – fez ela, abraçando o amigo.
- Põe uma blusa, depois me abraça.
- Diego! Já tá exagerando né, nem um abraço eu posso te dar agora?
- Não, não pode. Põe logo uma blusa, por favor!
- Tá bem, tá bem! Já estou completamente vestida, posso te abraçar agora?
- Pode sim – riu ele, abraçando a amiga. – agora lancha logo, antes que o chá esfrie.
Em alguns minutos Marie já havia comido tudo, e Diego pediu que ela se deitasse um pouco. Estava um pouco cuidadoso de mais...
- Onde estão mamãe e Dante que até agora não apareceram? Sequer deram minha falta, como sempre...
- Dante sempre se preocupou com você, talvez Caio tenha avisado que você viria para casa e... ah... é, não sei. Mas eu preciso te contar uma coisa... Na verdade eu deveria te contar mais tarde, mas vejo que já está na hora...
- O quê?!
- Você... hm...
- Eu o quê, Diego?!
- Você está... er... está esperando um bebê.
- É O QUÊ? Está dizendo que eu estou GRÁVIDA?!
- Não grite, por favor!
- D-Diego, eu não posso engravidar agora... minha mãe e meu irmão irão surtar! Olhe minha idade, olhe... Espera. Eu usei camisinha na minha primeira vez, eu me preveni, não tem como ser do Caio.
- Er...
- Respira, Marie. Respira... Você está querendo me dizer que eu estou grávida do Dante? Mas ele é meu irmão, como eu vou contar isso pra alguém? Mamãe nunca poderá saber, não mesmo! O que eu faço agora?! – Desesperou-se Marie, enquanto acariciava a barriga distraidamente, ainda sem acreditar que aquilo estivesse acontecendo.
- Bom, eu diria para você contar ao Caio. Ele entenderá...
- Contar ao Caio? Mas eu acabei de terminar com ele, Diego!
- Ele entenderá, com certeza. É o único que pode te ajudar agora, e nem mesmo o Dante pode saber da verdade; traria sérios problemas. Por enquanto apenas o Caio pode saber, conte a ele, Marie.Conte toda a verdade. Não se esqueça que ele te ama desde o primeiro instante em que a viu...
- Ok, farei isso. Confio em você, e confio nele.
- Obrigado, você sabe que eu jamais lhe faria mal. Agora, o que está esperando?
- O quê, tenho que contar ao Caio agora?
- Quando pretendia fazer isso?
- Ok, ok, eu vou. Mas se ficar tonta ou enjoada de novo quero ver o que você vai fazer, se ninguém pode te ver...
- Eu tenho meus truques, baby. – fez o garoto, com pose de super herói. Marie pulou em cima dele, que a levou nas costas até o elevador. Para a surpresa da garota, Caio a esperava na portaria, com a expressão um pouco abatida. Ele explicou que havia dito à mãe e ao irmão dela que provavelmente estaria em casa ou na praia, e que ele mesmo viria atrás dela. Caio esperava há apenas vinte quinze minutos ali embaixo, pois achou melhor esperar que a garota descesse para falar com ela.
- Quer almoçar comigo? Acho que precisamos conversar um pouco, Marie.
- É, precisamos mesmo... Mas antes você se importa se eu passar na farmácia?
- Claro que não me importo, mas vamos logo?
- Vamos, vamos sim.
A garota abriu o portão, e logo depois Caio segurava a porta do carro para ela, que olhou em volta verificando a presença de Diego. Este sentara-se no banco de trás e agora sorria encorajando-a.
- Quer que eu vá com você ou prefere que eu espere aqui no carro? – perguntou Caio, assim que pararam em frente a uma farmácia
- Não, não; não precisa se incomodar, é coisa rápida. – respondeu Marie, saindo do carro. Logo que entrou na farmácia avistou o teste de gravidez que Luna comprara uma vez e pegou-o.
- Confia em mim, né? – ironizou Diego, com cara de desaprovação para a garota, que respondeu por pensamento, não podendo falar em voz alta para o “nada” no meio de tanta gente.
- Eu confio, mas como vou explicar isso para o Caio? Preciso ter uma prova mais acessível, entende?
- Tudo bem, tudo bem... – cedeu o amigo. É lógico que vão te levar para fazer um exame médico depois, mas é realmente melhor assim. Pague logo, vamos.
Tão logo pegaram uma mesa no restaurante que não ficava muito longe dali, Marie pediu licença e se dirigiu o mais rápido que pôde para o banheiro, fazer o tal teste. Apesar de ser uma situação difícil e muito complicada, a garota sorriu e acariciou a barriga quando verificou que o teste deu “positivo”, confirmando sua gravidez. Diego apareceu ao seu lado, sorrindo também. Ajoelhou-se e beijou a barriga da menina, dizendo em seguida:
- Seja bem-vinda, sobrinha linda.
- É menina, Diego?! – perguntou Marie ansiosa, esquecendo-se de que era a única que podia vê-lo. Mas com o banheiro vazio, isso não fez diferença.
- Tenho quase certeza que sim, foi o que me informaram pelo menos. Que nome vai dar a ela, Marie?
- Anne. Annelies... Sempre gostei desse nome, desde pequena brincava em colocar esse nome em alguma filha minha... – respondeu ela sonhadora.
- E se for menino? –questionou Diego. A garota sorriu ainda mais ao responder, encarando os brilhantes olhos do amigo.
- Diego. E será como você, amigo fiel e leal até mesmo depois da morte.
- E galã também, com certeza.
- Mas é claro, olha a mãe! Como uma criança não vai sair linda e maravilhosa vinda de mim é que eu não sei... Nem que o Dante fosse feio, sinceramente... – brincaram os dois. Só então a garota se deu conta de que alguém a esperava lá fora. – Diego, o Caio! Tenho que ir para lá, senão ele vai achar que estou passando mal ou algo do tipo!
- É verdade, coitado do garoto!
Marie escondeu o teste em um saquinho dentro da bolsa e voltou rapidamente à mesa em que Caio esperava já um tanto impaciente. Após as desculpas da garota, pediram a comida e logo serviam a sobremesa. Comeram a última parte desta, quando Diego deu um toque em Marie.
- Não acha que já é hora de contar?
- Ok, essa é a hora. Não adianta mais adiar... – pensou a garota. Respirou fundo tomando coragem e enfim começou.
- Caio...
- Oi?
- Bom, eu... preciso contar uma coisa à você, mas só vou poder explicar depois.
- Temos muitos assuntos a tratar, na verdade, mas esse parece ser de maior importância. Aqui não é um lugar muito bom para esse tipo de conversas, mas eu sabia que você não havia comido nada, então achei melhor almoçarmos primeiro. Agora por favor prossiga, e desculpe a interrupção.
- Eu vou ser direta, Caio.  – Marie fez mais uma pausa em que respirou fundo antes de continuar. – Estou grávida.

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