21 de abril de 2011

Irmãos, ou não. - Capítulo XIII

Só pra avisar, esse capítulo ficou gigante D: mas acho que vão gostar *-*
Obrigada por lerem meu blog, anyway õ/
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- Marie, por que você não come alguma coisa? Vai acabar desmaiando de fome desse jeito. Come alguma coisa, amiga, por favor!

- Não estou com vontade. Se eu comer alguma coisa provavelmente vou acabar vomitando; não se preocupe comigo.
- Mas é claro que me preocupo! Você continua sendo minha amiga, Marie!
- Luna... - começou Marie, impaciente, para ser cortada logo em seguida.
- Luna o quê? Você precisa se alimentar. Não é, Gui?
- Quê? Hã? Me chamou, amor?
- Nada, principezinho, nadinha de nada.
- Amiga não começa, por favor! Não quero que vocês briguem, façam isso por mim se não puderem fazer por vocês mesmos!
- Ok, ok. Não estou muito a fim de me estressar mesmo não, e na verdade nem posso. Desde que ele também não provoque.
 - Tudo bem, chega de brigas então. Amigos?
- Amigos... – respondeu Marie, muito a contragosto.
Qualquer um poderia deduzir que aquele “amigos?” era apenas fruto da presença de Luna, porque Guilherme jamais aceitaria tão bem o fato de ter que se obrigar a tratar como amiga alguém que tanto desgostava. Mas quem assim deduziu não poderia estar mais errado. E dentre as pessoas que cometeram esse erro, logicamente se encontrava Marie. Talvez porque ela mesma tomara desgosto tal pelo namorado da amiga, que tinha certeza que seus sentimentos por ele eram recíprocos; mas Guilherme havia mudado um pouco e percebido que, na verdade, só agira tão mal com a garota por ciúmes, puro ciúmes. Ele na verdade se preocupava com Marie, e depois da morte de Diego decidiu-se por não ser mais rude com ela, e talvez até ganhar sua confiança... Não seria fácil, mas por algum motivo que ele mesmo desconhecia, estava disposto a fazê-lo. Então, ao final das aulas daquele dia, deixou Luna em casa e dirigiu-se até o apartamento de Marie. Tocou o interfone, porém o irmão da garota atendera – um tanto grosseiro – e informou que a garota não se encontrava e ele não fazia a menor idéia de quando ela chegaria. Guilherme explicou ser amigo dela da escola, e perguntou se ele por acaso não teria o número do celular dela, já que havia perdido. Sem muita boa vontade Dante passou o número a Guilherme, que agradeceu e logo ligou para a "nova futura amiga".
- Alô?
- Marie?
- Quem é?
- Guilherme, tudo bem com você?
- Tudo... O que você quer?!
- Nada de mais, Marie. Só queria saber como você está, te achei um pouco chateada hoje na escola. Aconteceu alguma coisa?
- Quem é você pra saber se eu to chateada ou não?  E desde quando se preocupa comigo? Aliás, quem te deu meu número, hein?
- Calma, calma... não precisa ser tão agressiva, só achei que poderíamos recomeçar. Fui ao seu prédio e perguntei por você, mas seu irmão Dante disse que você não estava então pedi seu número e ele me deu. De má vontade, mas deu.
- Dante... – repetiu a menina, com a voz perdida.
- É o nome do seu irmão, certo?
- Sim, sim... é o nome dele...
- Está tudo bem, Marie? – perguntou novamente Guilherme, um pouco preocupado. Silêncio... – Marie? Ainda está na linha?
- Quê?! Ah, oi. Tô, tô aqui sim. Do que a gente tava falando mesmo?
- Onde você está?
- Na praia... Por quê?
- Em que parte?
- Bem no início, onde tem umas pedras... Mas por que você quer saber, Guilherme?!
- Estou indo para aí agora, até mais.
E, dito isso, o garoto desligou o celular sem esperar resposta, indo diretamente ao encontro da menina, que estava bem perto dali, encostada em uma pedra, quase impossível de ser localizada. Chegando mais perto ele pôde notar que ela ainda estava com a roupa da escola, mas também visível havia um cordãozinho de biquíni que se amarrava em seu pescoço. Guilherme sentou-se ao lado de Marie, que ainda segurava o celular na mão sem entender nada; tomou um susto ao ver o garoto já sentado ao seu lado mal finalizara a ligação, mas por algum motivo o sorriso dele a fez sorrir de volta. Por um momento pareceu esquecer o motivo que a levou até aquele canto novamente, principalmente quando Guilherme a... abraçou. Ficou confusa por um instante, mas acabou por retribuir o abraço, e após muito tempo o garoto a soltou e perguntou, olhando diretamente no fundo dos olhos dela:
- Então, o que aconteceu?
- Eu... ah...
- Você...?
- Não sei se é um bom momento...
- Estamos sozinhos, na praia, está cedo e o céu claro. O que seria um bom momento pra você, Marie? – sorriu Guilherme, olhando a paisagem à volta.
- O que deu em você, hein? De repente se preocupa comigo e quer saber da minha vida... Que drogas te deram?l – sorriu ela de volta.
- Bom... depois que o Diego... você sabe, depois daquele dia, eu te vi fugindo do Caio e achei que tinham terminado, e só então eu percebi que nada do que tinha acontecido entre eu e ele era realmente sua culpa, e também que você estava mais sozinha agora, e achei que talvez precisasse de um ombro amigo... quer dizer, não sei se você me consideraria um amigo, mas ao menos um ombro eu tenho. – completou ele sem graça. Marie não pôde deixar de sorrir, achando graça no comportamento dele.
- Eu voltei com o Caio, então não estou completamente só... mas agradeço sua disponibilidade, acho que podemos recomeçar sim. Talvez seja a hora de algumas mudanças boas, depois de tantas ruins...
- Quer conversar, Marie? – A garota hesitou, mas achou que desabafar um pouco não faria mal a ninguém. Resumiu o mais que pôde toda a história, cortando uma coisa aqui e outra ali; mas parou mais uma vez na parte da gravidez.
- E então? Aconteceu alguma coisa no restaurante, ou...?
- Bom... eu tinha estranhado algumas coisas, e me resolvi por pegar o teste da farmácia e descobri que estou grávida. No início o Caio não acreditou muito, ficou bem atordoado e confuso – assim como eu ao descobrir a novidade -, mas por fim decidiu por assumir o próprio filho, claro. Fico feliz por ter ele de volta como namorado, e acho que me precipitei de mais ao terminar com ele apenas por achar que os problemas que ainda nem existem em relação ao ciúmes de Dante nos impediriam de continuar juntos... É claro que principalmente agora, com a gravidez, muitas dificuldades surgirão e tudo o mais, mas com certeza seria muito mais difícil de passar por elas se eu estivesse completamente sozinha.
- E você já contou isso ao seu irmão?
Marie paralisou, lembrando dos últimos momentos a sós com Dante, e não conseguia se decidir sobre contar ou não os detalhes daquele dia. Não saberia dizer quanto tempo ficou imersa naqueles momentos, mas só se deu conta de seu estado quando Guilherme tocou seu ombro gentilmente e chamou:
- Marie? Está tudo bem? Você está tão pálida...
- Acho que eu me deixei levar... – sussurrou a garota bem baixinho, mas Guilherme a escutou como se ela tivesse falado bem alto em seu ouvido.
- Se deixou levar pelo quê...? E você não me respondeu, contou ao seu irmão?
- Ah, desculpe... Contei ao meu irmão sim, e ele não reagiu muito bem; talvez precise de um tempo para assimilar tudo, e eu... eu entendo...
Novamente o garoto a abraçou, e Marie se conteve para não deixar as lágrimas que enchiam seus olhos transbordarem. Ela não podia ser fraca, já havia se decidido e agora que carregava uma filha dentro de si não poderia nunca mais demonstrar qualquer sinal de fraqueza... Não, ela tinha que ser forte, uma mãe precisava ser mais forte que qualquer outra pessoa. Então apenas retribuiu o abraço de Guilherme e secou as lágrimas sem que o garoto notasse. Por impulso consultou o relógio de pulso e se assustou com a rapidez com a qual o tempo se passara; já eram quase três horas da tarde, e ficou em dúvida quanto à volta para casa. Dante poderia se enfurecer com ela por chegar tarde, ou simplesmente por ela ter engravidado “de Caio”, como dois dias atrás. Sem saber o que fazer, resolveu voltar quando Guilherme também o fizesse. Se era para Dante enfurecer com ela, que ao menos tivesse motivos e o mínimo de tempo possível para isso.
A conversa dos dois em si foi um tanto monótona, mas Guilherme conseguira ganhar pontos com Marie, e a garota agora confiava nele. Não totalmente porque ainda era muito cedo para ter certeza da personalidade dele, mas ao menos tinha nele confiança suficiente para contar algumas de suas dificuldades, ainda que resumidas. Em dado momento levantaram-se e começaram a andar pela praia, até que Guilherme se lembrou que Marie estava com biquíni por baixo e sugeriu que mergulhassem; não se importava de molhar a bermuda que usava, secaria com o tempo. Voltaram ao cantinho onde conversavam há pouco e deixaram ali suas mochilas com as roupas dentro. Foram então para o mar e mergulharam, jogaram água um no outro, riram brincaram, como se todos os problemas tivessem sido deixados na areia da praia. Estava quase escurecendo quando sentiram frio e decidiram voltar para casa. Mas, quando chegaram ao local onde deixaram suas coisas...
- Ah, só me faltava essa. Roubaram nossas mochilas, e agora? A chave do meu carro estava lá dentro, assim como minha carteira com documentos e dinheiro, e minhas chaves de casa também se foram, junto com meu celular e todo o resto. Que merda, e agora?
- Calma, Gui... eu vou dar um jeito, não se preocupe. Meu celular também estava lá dentro, mas felizmente era a única coisa de valor, porque eu não levo dinheiro para a escola e hoje por um acaso esqueci minhas chaves e meus documentos em casa. Mas não se preocupe, eu vou falar com o Caio e talvez... desculpe, eu me esqueci... Falarei com mamãe então, e talvez ela deixe você dormir lá em casa hoje ou tenha alguma ideia... Tudo vai dar certo, tenho certeza Não se preocupe, está bem? – Marie, que durante toda sua fala olhava à volta à procura do ladrão – ou ladra – que a essa altura estaria muito longe dali, ao proferir a última fala se surpreendeu ao ver Guilherme sentado na areia abraçando os joelhos, com o rosto enterrado entre os braços. A garota se abaixou e pôs a mão direita sobre o ombro esquerdo do garoto, e apertou-o de leve como a dizer que estava ali para ele. Guilherme levantou a cabeça para ela, e por breves segundos se encararam, e ele não pôde entender como por tanto tempo ignorara a pessoa maravilhosa que era Marie. Pela terceira vez no dia abraçou-a, mas era um abraço de quem pedia colo, de quem dessa vez gostaria de receber o abraço. Marie por sua vez abraçou-o forte e pouco tempo depois acariciava o cabelo de Guilherme, enquanto este se encostava em seu peito. A noite ia cobrindo-os e já estavam sozinhos na praia. Quando se deram por conta, correram à casa de Marie, para encarar um clima realmente tenso, visto que estavam ainda úmidos e apenas com trajes de banho, e mamãe ainda não havia chegado. Dante não fez pergunta; apenas olhou a irmã com uma mescla de nojo e ciúmes – que agora dificilmente se diferenciava de ódio -, e voltou ao quarto com seu lanche noturno. Marie sugeriu que Guilherme esperasse no sofá enquanto ela se vestia e perguntava ao irmão se podia emprestar uma roupa à ele. Depois de muita cerimônia, o garoto obedeceu-a. Enchendo o peito de ar, tomando coragem, foi primeiro ao quarto do irmão perguntar pela mãe e explicar o que acontecera. Dante apenas ouvia sem mover um músculo sequer, encarando a televisão. Ao final da explicação, apenas respondeu que a mãe ligara avisando que voltaria apenas de madrugada para casa e indicou que ela pegasse em seu armário apenas uma camisa não muito nova para Guilherme, e que se quisesse dormir lá, que a própria Marie se arranjasse, porque não ia se meter nos “casos” da irmã. Furiosa, a garota pegou a camisa e exclamou, fulminando o irmão:
- Ele é apenas meu amigo, e namorado de Luna. Você realmente não tem que se meter na minha vida, isso sim. Cuide do que é seu, que cuido do que é meu. Só peço que tome cuidado com essas drogas que anda usando, porque em breve mamãe irá perceber.
E voltou-se para a sala de estar, batendo a porta do quarto do irmão. Controlando deu a blusa à Guilherme e disse que a seguisse para seu quarto, onde arrumaria a cama de baixo para que ele dormisse.
- Quer ligar para casa agora ou prefere tomar banho antes? – perguntou Marie.
- Melhor ligar pra casa, não acha? Pode ir tomando banho, não se preocupe comigo... é só me dizer onde ficar o telefone que eu me viro.
- Usa esse do meu quarto que é linha privada, é esse gato aí em cima da mesa. – indicou a garota.
- Seu telefone é em formato de gato? – riu Guilherme, procurando o objeto. Marie sorriu.
- Ah, eu achei tão lindinho quando vi na loja! Tenho há um ano, ganhei de aniversário no ano passado, foi Dante quem me deu...
No mesmo instante seu sorriso se desfez, e a garota simplesmente pegou a toalha e o pijama e voltou-se para o banheiro, batendo a porta ao entrar e trancando-a. Guilherme suspirou enquanto pegava o telefone. Como estava muito tarde e ele morava em outro bairro, seu avô - com quem o garoto morava - não se importou que ele dormisse na casa de Marie hoje, contanto que no dia seguinte a mãe dela confirmasse a história. Tranqüilizado, deitou-se na cama que Marie armara para ele e acabou pegando no sono quase em seguida. A garota não se demorou muito no banho, mas quando saiu do banheiro Guilherme já havia dormido. Pensou em deixá-lo dormir, mas lembrou que ele deveria estar incômodo com a areia grudada pelo corpo e se abaixou para acordá-lo.
- Gui? – chamava Marie baixinho, bem próximo ao ouvido do garoto, acariciando seu braço delicadamente. – Guilherme, não quer tomar banho? Gui...
O garoto acordou no terceiro chamado, e virando-se deu de cara com os brilhantes olhos de Marie, e por instantes ficou hipnotizado por eles; ela, por sua vez, se aprofundara nos olhos verdes dele e demorou-se a voltar do transe. Como se nada houvesse acontecido, ela voltou a chamá-lo:
- Guilherme, não vai tomar banho? Quanto mais cedo for, mais cedo dorme, e dá pra ver que está com bastante sono – sorriu ela bondosamente. Os sentimentos maternos tão cedo já começavam a tomar conta dela, e passando a mão pela barriga lembrou-se de Diego... afinal, onde estava ele que há tanto tempo não aparecia? Guilherme notou o gesto da garota e beijou sua barriga, fazendo com que ela risse.
Afinal, Guilherme não era má pessoa. Estava mais para um ótimo amigo...

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