15 de abril de 2011

Irmãos, ou não. - Capítulo XII

- Marie, meu anjo, hoje não é Primeiro de Abril... – balbuciou Caio, assustado.
- Eu sei disso Caio, eu sei. Eu não mentiria pra você mesmo que fosse o dia da mentira. Eu estou... grávida. – respondeu a garota, de cabeça baixa. Alguns minutos de silêncio se sucederam, em que a cena pareceria estar congelada não fosse pela respiração dos dois e pela movimentação do resto do restaurante. Enfim Caio quebrou o silêncio.
- É... é meu?
Marie levantou a cabeça, olhando para ele sem entender muito bem a pergunta.
- O filho... ou filha... é de mim que você está... grávida?
A garota sorriu um sorriso triste, e não soube muito bem se deveria dizer a verdade agora. Optou por pedir a conta ao garçom, e seguiram para a casa de Caio em silêncio, ainda no mesmo clima tenso. Nenhum dos dois sabia muito bem porque não iam para a casa de Marie e sim para a de Caio, mas também nenhum deles parecia preocupado com isso, e continuaram sem falar e sem olhar um para o outro, como se ambos soubessem o que estava por vir. Quando entraram no apartamento, a mãe dele estava na cozinha de costas para eles, virada para uma bancada. Cumprimentou-os animadamente mesmo sem os olhar, pois já estava acostumada com Marie. Carly deveria estar trancada em seu quarto como de costume. Seguiram para o quarto de Caio e o trancaram. Após alguns minutos de mais tensão, Caio retomou a pergunta que não lhe saía da cabeça:
- Então... é meu? Ou... ou minha, não sei. Porque você sabe, aquele dia a gente se... preveniu, né? Então eu fico confuso com isso, acho que você entende... entende?
Sorrindo mais uma vez com tristeza, a garota respondeu, olhando para as mãos.
- Eu gostaria que fosse...
- Ah. Entendi. Tudo bem, eu entendi. É do Diego, então?
A garota desfez o sorriso, e olhou agora assustada para Caio.
- QUÊ?! Enlouqueceu, Caio? Lógico que não, lógico que não!
- Então é de quem, Marie?! – se assustou o garoto, chegando mais perto dela, que continuava olhando para as mãos, sentada na cama. A garota respirou fundo, antes de revelar.
- É do Dante.
- Ah... acho que não entendi muito bem...
- É do Dante, Caio. Dante, meu irmão. Mas ele não pode saber...
- O que... Marie, o que ele fez com você!?
- Ele não fez nada, é uma longa história... Se você tiver tempo, eu explico.
Diego, que apenas observava a cena toda sem dizer palavra, sentou ao lado de Marie e disse carinhosamente ao seu ouvido:
- Vai ficar tudo bem, Marie. Eu te prometo, estarei aqui do seu lado sempre...
Caio sentou-se na cadeira da escrivaninha, virando-a a ficar de frente para a garota que, respirando fundo mais uma vez, começou a explicar tudo desde seus oito anos até o dia do enterro de Diego. Não mencionou nada sobre seu novo anjinho da guarda, porque não foi necessário. Caio apenas escutava toda a história com uma expressão confusa, como se não acreditasse que aquele tipo de coisa fosse possível. Lágrimas rolavam silenciosamente pelo rosto da garota, que ainda falava para as mãos ao seu colo, mas Caio nada via porque fixara um ponto no chão enquanto apenas ouvia. Por fim uma única lágrima deslizou também pelo rosto do garoto, mas este logo a secou e levantando-se tomou a decisão:
- Eu vou assumir, não se preocupe.
- Vai?
Surpresa, Marie levantou o rosto cheio de lágrimas para Caio, que sentou-se ao seu lado e a abraçou forte por muitos minutos. Secou então todas as lágrimas do rosto da garota e após fitar seus lindos olhos por algum tempo, beijou-a, fazendo o possível para transmitir apenas com aquele beijo todo o seu amor por ela.
Mas, desta vez, as imagens que se passaram nos olhos fechados de Marie foram todos os melhores que vivera com o garoto. Ele sempre fora atencioso amoroso com ela, e por mais que brigassem ele sempre acabava cedendo; era muito compreensivo. Ciumento, como qualquer garoto apaixonado, mas tinha uma forma extremamente fofa de demonstrar; mimava Marie cada vez mais, a medida que sentia ciúmes dos amigos dela, ou mesmo do irmão - agora, claro, ele podia entender que não fora tão sem fundamento assim seus ciúmes da garota com Dante, mas não se importava nem um pouco contanto que estivesse ao lado de Marie e os dois ainda se amassem. As flores, os campos, os filmes, os lanches, os sorvetes, as risadas e todo o carinho que um sentia pelo outro, toda a confiança, as brincadeiras, os beijos e os toques, passaram pela mente da garota naqueles minutos. Ela sentiu então que estava no caminho certo, e contava com Diego e Caio para passar pelas futuras dificuldades com as quais ela não se preocupava em cogitar no momento. Apenas desfrutou da alegria de ter alguém tão especial ao seu lado, e continuou o dia como se não houvessem problemas no mundo, como se tudo fosse apenas aquela imensa alegria e paz que o casal agora sentia.
- Marie - chamou Caio, afastando dos olhos os cabelos da garota, e acariciando seu rosto. Ela voltou seus olhos para os dele, extasiada -, você aceita ser minha novamente?
A garota sorriu radiante e pulou em cima dele beijando-o como resposta. Aos poucos o clima foi se tornando mais quente, quase um calor insuportável que fez com que as roupas dos dois fossem tiradas rapidamente, e... enfim, não é preciso muita coisa pra saber o que aconteceu em seguir. O que eles não contavam, era com uma certa orelha escutando pela fresta da porta, e gravando cada palavra e até os gemidos com um pequeno gravador.
Porém, tendo isso passado despercebido de todos, a vida continuou. Marie acabara ficando liberada da punição por ter sumido sem dar satisfações por conta da morte de Diego. Dante estava achando-a estranha nos últimos dias, e passado uma semana observando o contínuo comportamento afastado de Marie, resolveu interrogá-la sobre isso. Estava a garota procurando mais uma vez a louça na cozinha, de costas para a porta, quando o irmão chegou por trás com as mãos sempre geladas abraçando-a pela cintura. Desta vez ela não tinha nada nas mãos e por isso não quebrou nenhuma louça, mas gritou de susto e afastou por impulso as mãos do garoto de sua barriga. Virou-se ainda assustada, e desviou quando Dante tentou dar o costumeiro selinho. Era sábado, e mamãe não estava em casa pois trabalhava também neste dia da semana; por tanto ninguém ouviu quando Marie gritou ao ser pega no colo por Dante, que a levara até o próprio quarto e a jogara praticamente de qualquer jeito na cama.
- Dante!
- Dante o quê, Marie?! - perguntou o garoto em voz alta, muito grosseiramente.
- Pára, enlouqueceu de vez?
- Me responda você... Tem se afastado cada vez mais de mim e da mamãe, como se tivéssemos feito algo de errado pra você! – o garoto parecia ter se estressado com a recusa do selinho, e se aproximava assustadoramente da irmã a medida que falava, ou melhor, gritava com ela. Marie nunca o vira tão agressivo antes, o que a assustava mais ainda...
- Por que está gritando comigo, amor? – questionou ela, com a voz mais doce que nunca, apesar de não conseguir esconder o medo atrás da doçura.
- AGORA – gritou ele ainda mais, dando um passo à frente -, VOCÊ ME CHAMA DE AMOR...
- Pára, por favor! Pare de gritar, vai fazer mal ao bebê! – pediu Marie, impulsivamente pondo as mãos sobre a barriga. Dante estacou onde estava, sem entender muito bem o que acabara de ouvir. Se afastou um pouco mais de Marie e sentou na cama aos pés desta, parecendo assustado e confuso. A garota por sua vez tremia,  também assustada com o que dissera, dividida entre o desespero por ter contado tão bruscamente a notícia e o alívio por não precisar mais se preparar para falar o mesmo que falara a Caio. A situação era crítica, e os dois irmãos passaram algum tempo em silêncio, tomados pelo choque. Até que Dante quebrou o silêncio, perguntando com a voz trêmula:
- É meu... ou do Caio?
A garota inspirou fundo pela milésima vez e, lembrando do que Diego dissera a ela, obrigou-se a mentir.
- É do Caio, Dan...
Dante deu um rugido ensurdecedor, que fez Marie quase saltar da cama do irmão. Quebrou todos os CD’s que havia em uma prateleira jogando-os no chão e deu um soco extremamente forte na parede; ele estava fora de si tamanha a raiva e o ciúmes. Como? Como pudera Marie engravidar de Caio... Eles eram um do outro, confiavam um no outro, e eram apenas um do outro... Como pudera ela omitir a notícia por tanto tempo, escondendo a verdade dele? Mas, repentinamente, surgiu uma luz em sua mente que talvez melhorasse tudo, se ainda houvesse tempo... Controlando a ira dirigiu-se à irmã o mais calmamente que pôde.
- Você já contou isso a ele?
- J-já... E ele disse que vai assumir, nós... nós v-voltamos...
- NÃO! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO, VOCÊ NÃO... SUA... ARG!
Dante estivera prestes a dar um tapa em Marie, mas fechou o punho e guardou-o dentro do bolso a tempo. Mas, uma vez atingido tal estado, dificilmente o garoto se controlaria tão facilmente mais uma vez.

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